Foi linda a noite de estreia do musical “Bilac vê estrelas”. A foto aí do lado mostra nosso André Dias, ou melhor, nosso Bilac, tendo um delírio depois de levar uma pancada na cabeça: ele pensa que está no Monte Parnaso! E querem saber? Acho que todo mundo no teatro acreditou. É um dos momentos mais bonitos da peça. Quem ainda não viu, não pode perder! Sou suspeita para falar, mas ao mesmo tempo fico à vontade, porque todos os envolvidos nesse projeto lindo deram tudo de si, para tornar o espetáculo a graça que é. Menção especial ao diretor João Fonseca — o maior diretor de musical em atividade no Brasil — e ao compositor Nei Lopes, cujas canções deram a “Bilac vê estrelas” uma qualidade excepcional.
Reproduzo aqui a letra de duas das canções do musical, para dar uma ideia:
“Sassaricos na porta da Colombo”:
Comment ça vá, mon ami?
Tudo marveiê!
Tré biã, merci, monamú.
Na legalitê! (Refrão)
Rio de Janeiro! Enfim o progresso
Tudo pelo avesso! Civilização
Abaixo o Castelo, morro abafadiço
Quiosques, cortiços, tudo vai pro chão
Sopram forte os ventos da modernidade
Abre-se a cidade pra ser mais feliz.
Belas avenidas, lindos bulevares
São os novos ares: o Rio é Paris.
(Refrão)
Vem caindo a tarde, charmosa e vadia
Na Gonçalves Dias e em toda a Ouvidor.
Saias e sombrinhas, plumas e reclames
Moças e madames, tudo arte “nuvô”.
Nos belos cardápios das confeitarias
Finas iguarias, sorvetes, licor
E pelas calçadas, tonta de alegria
Segue a poesia nos versos de amor.
(Refrão)
Neste principado do verso e das rimas
Das sátiras finas, do humor jovial
A métrica certa, o fecho de ouro
São, mais que tesouros, bruto capital.
E airoso na frente da tropa de choque
Desta Belle Époque, a prata de lei:
Rescendendo aromas de rosas e cravos
O príncipe Olavo Bilac é o rei
(Refrão)
Garçons, cozinheiros, boêmios, cantores
Vetustos senhores de cartola e fraque
Repiquem tambores, ressoem clarins:
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac !
Arrulhem, suspirem, moças casadoiras
Mulatas e loiras, damas de destaque
Para seus aplausos, pra todos os fins
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac !
(Refrão)
Por toda a cidade, seu nome é um ribombo
Hoje na Colombo, ontem na Pascoal
Da mesa de frios até o empadário
Tudo é secundário ante o principal.
Cale-se a inveja e a maledicência
Ante a evidência, erga-se o louvor.
Amigo das letras, artista do traço,
Dá cá um abraço: Bilac chegou!
“Tout le Riô”:
O Rio de Janeiro
Já não perde pra Paris
Agora é lá e cá
É tudo vis-à-vis.
Lá na cidade-luz
Comi croquete de siri,
Então exijo aqui
Moqueca de escargot
Como dizia o grande
Monsieur Victor Hugô
C’est tout la même chose
C’est tout le Riô!
Qualquer confeitaria
Tem champagne e champignon
Cognac e anizette
E um bom filé mignon
E até casa de pasto
Já se esforça nessa arte
Tem menu a la carte
Foie gras, petit gateau
É a realidade
Tout le monde já notou
C’est tout la même chose
C’est tout le Riô!
Nas luzes da vitrine,
Lingeries e negligées
Rendas, popelines
Cachecóis e cache-nez
As calças e os culottes
De crochê e de tricô
O Rio civiliza-se
Em voo d’oiseaux
Mostrando a tout le monde
O que Paris lhe ensinou.
C’est tout la même chose
C’est tout le Riô!
Escrito no menu
Asperges gratinées
Entrées, glaces, desserts
Dindon farci, poulets
Aí, o freguês reclama:
“Escute aqui, Ô seu Ioiô,
Vatapá a la bahienne
Ofende a tradição nagô”.
O maître então faz pose
E diz com ar de professor:
C’est tout la même chose
C’est tout la même chose
C’est tout la même chose
C’est tout le Riô!
“Bilac vê estrelas” está em cartaz de sexta a domingo, sempre às 19 horas, no Teatro Sesc Ginástico (av. Graça Aranha 187) até o dia 22 de fevereiro.