No próximo sábado, dia 12 de setembro, às 15:30h, Ruy Castro estará no Café Literário da Bienal do Rio. Quem vai entrevistá-lo sou eu. O bate-papo será sobre o Rio e sobre a relação de Ruy com a cidade, entre outros assuntos. Imagino que a gente vá acabar conversando também sobre meu livro “O oitavo selo“, o quase romance lançado por mim no ano passado, e do qual Ruy é personagem central.

Quanto à relação de Ruy com o Rio, não preciso nem falar muito. É só enumerar os assuntos de seus principais livros: Bossa nova, Nelson Rodrigues, Garrincha, Flamengo, Carmen Miranda – tudo muito carioca. Isso, para não falar em “Carnaval no fogo: Crônica de uma cidade excitante demais”, um de seus livros mais deliciosos e que traça um panorama dos 500 anos do Rio. Para quem duvida, aqui vai um trecho de “Carnaval no fogo“:

“Se [Américo] Vespúcio voltasse hoje à cidade, quinhentos anos depois, como seria? Em 1502, ao defrontar-se com o Pão de Açúcar, ele vira na Guanabara algo muito parecido com a ideia que os antigos faziam do Paraíso: um carnaval de montanhas, serras, praias, enseadas, ilhas, dunas, restingas, manguezais, lagoas e florestas, tudo sob um céu que não tinha fim. Uma obra-prima da natureza, habitada por uma gente feliz, bronzeada e amoral: homens e mulheres que viviam cantando e dançando ao sol, todo mundo nu, fornicando alegremente nas matas e areias, dormindo em redes ao luar ou em românticas choupanas de palha, e com uma abundância de frutas, pássaros e peixes ao alcance da mão – ninguém precisava plantar, só colher, e vida que segue. Uma vida tão feliz e paradisíaca que deixava muito mal a ideia, então corrente entre os jesuítas,de que os selvagens não tinham ‘alma’.

Em 2002, Vespúcio veria semelhanças e diferenças na insuperável coleção de cartões-postais. A baía seria o mesmo espetáculo, só que agora, se estudada de perto, turvada por corpos estranhos como garrafas plásticas, pneus velhos ou mil toneladas de óleo vazadas no mar por um petroleiro. O recorte do litoral continuaria um escândalo, mas Vespúcio, que o conhecera virgem, perceberia que sofrera alterações – aonde teriam ido parar as dezenas de mimosas enseadas, ilhotas e prainhas? Já as grandes montanhas estariam firmes como sentinelas, embora o verde tivesse diminuído consideravelmente. A temperatura também subira para valer, e ele ficaria louco para tirar aquelas calças justas de veludo e o casacão elisabetano. Mas nem toda intervenção humana na paisagem seria condenada por Vespúcio – ele certamente adoraria o bondinho, preso por cabos, subindo e descendo o Pão de Açúcar. E, para onde quer que olhasse, veria a explicação para tantas transformações: no lugar da aldeia de esparsas choupanas surgira uma cidade, com prédios altos e brancos, povoada por 5.8 milhões de habitantes, chamados de “cariocas” – quase todos com alma”.

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