Pérolas e bebês

Sempre que caminho de manhã no calçadão da praia de Ipanema, eu reparo. Não demora muito e lá vem uma babá, ou mais raramente a mãe, empurrando um carrinho duplo. Ou triplo. Nunca se viu tantos gêmeos por aí.

Há poucos anos, ver um parzinho desses na rua era um acontecimento. Os gêmeos chamavam tanta atenção que as pessoas paravam para apreciá-los quando passavam em seus carrinhos duplos. Imagino que carrinhos duplos tivessem de ser encomendados, por serem artigos também raros no mercado. Enfim, não sei qual era a probabilidade de se ter gêmeos há algumas décadas, mas não há dúvida de que hoje isso é muito mais comum.

Leio em algum lugar que o fenômeno se deve não só à inseminação artificial (quando vários óvulos são implantados no útero, para aumentar a chance de dar certo), mas também a outros fatores, como, por exemplo, alimentação (dieta com muito laticínio) e a idade da mãe (mulheres com mais de 35 anos têm, por razões hormonais, maiores chances de ter gêmeos). Enfim, a nova realidade é essa. Mas acho que perdeu um pouquinho da graça.

Vocês vão dizer que parei no tempo, mas também acho uma pena descobrir o sexo do bebê antes da hora do nascimento. A ultrassonografia tirou toda a graça da brincadeira. Era um suspense, uma emoção, um impacto. Agora não tem mais nada disso. Tudo bem que os exames todos no pré-natal ajudam a cuidar da saúde da mãe e do bebê, mas devia haver uma maneira de preservar o segredo sobre o sexo da criança. Eu mesma vivi uma emoção muito grande ao constatar que meu bebê era mesmo uma menina – coisa que intuía, de forma quase sobrenatural.

No caso de gêmeos, o que não faltava era susto. Tenho duas primas que são mães de gêmeas e lembro perfeitamente do tamanho da comoção quando descobriram o que estava por vir. E hoje é essa coisa comum.

O que se dá com os gêmeos é um fenômeno parecido com o que aconteceu com as pérolas. Já tendo sido mais preciosas do que o ouro e os diamantes, as pérolas hoje custam pouco porque o homem aprendeu a fabricá-las, imitando a secreção do nácar dentro da ostra. Com isso, é praticamente impossível discernir uma pérola natural de uma cultivada.  Até o século dezenove, só existiam pérolas naturais. Por isto, uma pérola redonda e perfeita era algo raríssimo. Os caçadores de pérolas abriam centenas e centenas de ostras até encontrar uma que tivesse produzido, dentro de sua concha, o pequeno objeto nacarado. E, mesmo assim, esse objeto só tinha valor se fosse redondo e perfeito.

Mas aí veio o homem e transformou tudo.

No início do século vinte, um japonês chamado Kokichi Mikimoto, filho de um fabricante de macarrão, conseguiu fazer o que até então parecia impossível: cultivar pérolas. Aperfeiçoando um método que já vinha sendo testado por outros pesquisadores, Mikimoto conseguiu fazer com que as ostras por ele manipuladas produzissem pérolas perfeitas, através da introdução, no corpo dos moluscos, de um núcleo redondo feito de concha, em torno do qual era secretado o nácar. E, com isso, provocou uma revolução. Foi como se um alquimista afinal descobrisse – e revelasse ao mundo – a fórmula para transformar carvão em ouro. Nada nunca mais foi como antes.

Com os gêmeos foi a mesma coisa. Que fazer? É o admirável mundo novo.

 

 

(Revista Seleções)