Eu queria escrever uma história feliz.

Queria. Em meio a tanta escuridão, tanta sordidez e desesperança – por todos os lados –, tenho tentado me manter fiel ao que em mim clama para ser escrito: relatar histórias mínimas, detalhes nem sempre vistos em meio ao cotidiano massacrante, momentos em que ainda paramos para observar no mundo os espaços, cada vez mais estreitos, de delicadeza.

Mas hoje não vou poder fazer isso. Hoje, não tenho uma história bonita para contar. Nem delicada.

Passei a semana pensando na frase que uma amiga me disse na segunda-feira. Estávamos em uma festa, uma celebração. E ela me veio com aquela frase. Tentei não ouvir, tentei mudar de assunto, mas ela insistiu. E eu tive de escutar. Pronto. A história não saiu mais do meu pensamento.

A amiga era a jornalista Maria Inês Duque Estrada. E a história que ela me contou é a seguinte: alguém passou uma cola poderosa em um corrimão diante da estação do metrô no Largo do Machado e, quando os pombos pousam ali – ficam presos. Não se soltam mais. Morrem. Quando alguém tenta tirá-los dali, as patinhas muitas vezes são arrancadas, tal a força da cola usada.

Eu, que todas as manhãs me vejo cercada de pombinhos no quiosque onde termino minha caminhada, em Ipanema, e muitas vezes me divirto jogando pedaços de coco para eles, ouvi aquilo sem nem saber o que dizer. No quiosque, chego a reconhecer alguns dos pombos, pela cor das penas, pela maneira de se movimentar. Às vezes tenho a impressão de que eles me reconhecem também e se aproximam assim que chego. Imaginar esses bichinhos indefesos, no desespero de ter as patas presas, morrendo de fome e de dor, me horrorizou.

Será que alguém pode fazer alguma coisa? As autoridades? As organizações de defesa dos animais? – pensei.

Ao ouvir minha queixa, alguns dirão: pombos! O mundo desabando em sangue e lama e você vem me falar de pombos… Mas não é só de pássaros que trata essa triste história. Ela é sobre a crueldade humana, sua baixeza. Sobre até onde pode chegar o barbarismo das pessoas. Uma atitude dessas diz muita coisa sobre nós, e isso é muito triste. Porque – e disso me convenço cada vez mais – o grau de civilização de uma sociedade também se mede pela maneira como ela trata seus animais.

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