O homem abriu os olhos – e pronto. Foi assim, um segundo apenas e estava completamente desperto, passando do sono ao alerta de forma instantânea, como sempre acontece com os gatos.
Mas seus olhos não lhe mostraram nada, a escuridão era absoluta.
Tentou se lembrar que lugar era aquele. Mexeu devagar a mão direita, apalpando a superfície sobre a qual se encontrava. Ele não era dessas pessoas catatônicas, que, quando acordam, levam vários minutos para entender onde estão. Sempre passava do sono à vigília com rapidez, sem meios termos. Era, portanto, estranho que, estando tão completamente desperto, não conseguisse reconhecer o lugar onde estava. Estranho também que sentisse, junto com aquele não reconhecimento, um incômodo, um rumor interno subindo, quase um presságio.
Moveu um pouco mais a mão. Era um lençol. Estava deitado em uma cama, embora tivesse certeza de que não era a sua. Começou então, aos poucos, a se lembrar. Era uma viagem de trabalho. Uma cidade estranha. Um hotel, claro. Nada de mais aí. Seria só estender mais o braço, buscar um abajur e acender a luz. Mas por que adiava esse ato tão simples? Por que a tremenda sensação de inquietação?
Continuou parado, à espera de uma explicação interna para o que sentia. E ela veio. A princípio apenas sutil, mas logo avassaladora, tornada certeza. Havia alguém ali dentro. No quarto. No escuro. Um intruso.
Recolheu a mão para junto do corpo. Esperou. Sentiu alguma coisa riscar-lhe o pescoço, muito de leve, e demorou a entender que era uma gota de suor escorrendo. Foi só então que percebeu a dimensão do próprio medo. Mas não um medo qualquer, um medo físico – não. Sabia que ali a seu lado havia alguma coisa inexplicável, impalpável. Uma presença.
O surgimento dessa palavra em seu cérebro fez os cabelos dos braços se eriçarem, em um segundo. E antes que o medo se transformasse em pavor, com um impulso, sem refletir, o homem se sentou na cama e acendeu a luz.
Ficou parado olhando para o espaço vazio a seu lado, na cama de casal. Havia um desalinho, uma perfeita mossa, muito bem delineada no lençol. A marca de um corpo.