Em um pacato subúrbio americano, de gramados e cercas baixas, está a casa. Uma casa de subúrbio qualquer. De madeira, pintada de branco, com porta dupla, de tela, e cortinas de tecido fino nas janelas. O cenário está vazio de seres humanos e tudo parece normal.
Até que percebemos, no gramado, junto ao pequeno caminho de cimento que vai dar na porta principal – a caixa. É uma caixa de papelão de tamanho médio, daquelas em que normalmente vêm acondicionados os fornos de micro-ondas ou qualquer outro eletrodoméstico parecido.
De repente, no nosso campo de visão, surge alguma coisa. Digo “alguma coisa” porque, embora seja um ser humano, ele tem um aspecto muito peculiar: é uma pessoa – homem ou mulher, não sabemos – vestido em um traje de astronauta. A chegada de um ser humano em traje de astronauta a uma casa de subúrbio americano (Estados Unidos, planeta Terra) é por si só uma estranheza. O que será que justifica isso?
O silêncio e também a falta de outros seres humanos em volta começam a nos inquietar. Alguma coisa muito incomum aconteceu. Uma epidemia que ameaça se espalhar, alguma contaminação terrível – o que será?
Uma olhada mais atenta na roupa daquele “astronauta” nos revela uma sigla e, num segundo, tudo se esclarece: aquela pessoa vestida no traje intergalático é, na verdade, membro de um esquadrão anti-bomba. Então é isso. Terrorismo. Há a suspeita de que aquela caixa de papelão seja uma bomba. Aguardamos.
O “astronauta” chega mais perto. Em seguida, vira-se e faz um gesto, provavelmente para seus superiores. Vemos, através do visor de seu capacete, que ele fala alguma coisa, com toda a certeza se comunica com os outros membros da equipe. Entramos na frequência, estamos agora ouvindo o que eles dizem. Discutem, através do rádio acoplado ao capacete, se a caixa deve ou não ser explodida, por uma questão de segurança.
Depois de muita discussão, chegam à conclusão de que é preciso explodir – não se pode correr nenhum risco. Mas, para isso, a caixa deverá ser removida dali com todo o cuidado, para um local mais distante da casa, das casas. Um braço mecânico se aproxima, o “astronauta” observa. O mecanismo toca na caixa, para empurrá-la ou recolhê-la.
Mas nesse instante o “astronauta” vira-se e faz um gesto de “esperem!”.
Aproxima-se, abaixa-se. Tira fora o capacete! O que está acontecendo, ele enlouqueceu? Ele não pode fazer isso.
Mas ele faz. Arranca as luvas especiais. Com a maior naturalidade abre a caixa. Torna a virar-se para seus superiores e sorri, enquanto enfia os braços dentro da caixa. Trás à tona, um em cada mão, dois filhotes de gatinho.
Alguém me contou ter visto um vídeo assim na internet. Eu não assisti, mas tenho pensado nele – e decidi transformá-lo em palavras. Serve de reflexão sobre o mundo em que vivemos.
(Revista Seleções)