Em uma esquina de Ipanema, daquelas bem arborizadas, já a caminho da Lagoa, paro e observo dois prédios, um ao lado do outro. São edifícios pequenos, de três andares, com detalhes art-decô e varandas inúteis mas simpáticas, mínimas, pouco mais do que sacadas. Nem um nem outro tem porteiro. Os muros são baixos. Nada de grades, vidros com filme escuro, alarmes. E muito menos aquelas tabuletas – pavorosa mania – avisando que o lugar é guardado por um sistema de segurança.

Gosto desses prédios pequenos, talvez porque nasci em uma construção assim. No Jardim Botânico, na rua Faro, quase ao lado do Bar Joia. Saí de lá aos 7 anos e dele só tenho uma lembrança mais vívida porque ali voltei a morar mais tarde, já casada. Esse prédio ainda existe. Tem três andares (um deles abaixo do nível da rua, por causa do desnível do terreno) e uma característica comum a quase todas essas construções pequenas: nome de gente. Os prédios antigamente, quando não tinham nome de santo ou lugar, se chamavam como as pessoas, Alexandre, Adalberto, Aparecida. Coisa simples, terna, evocando alguma homenagem familiar, talvez um carinho para com uma criança.

Hoje é diferente. Os prédios têm nomes pomposos, tolos, têm títulos fingidos, de uma nobreza falsa. E já nem são mais edifícios, são solares, residências, townhouses, maisons. São frios, muitas vezes com o primeiro andar ficando na altura do que era antigamente o quinto, e isso por causa das garagens e play-grounds. Há uns, com portarias de pé-direito altíssimo, que, de tão austeros, têm cara de Ministério da Indústria e do Comércio.

Estava refletindo assim, diante daqueles prédios pequenos de Ipanema, quando uma mocinha parou na calçada diante de um deles e gritou pela avó. Logo, uma senhora apareceu na varanda e, para meu deleite, fez descer alguma coisa dentro de uma cestinha pendurada em uma corda. A menina pegou (era uma chave!), abriu a portaria e desapareceu. Pensei então em um amigo que reclama dos prédios novos, dizendo que eles não têm mais a dimensão do homem. E tornei a olhar com ternura para aquelas construções de Ipanema.

Alexandre, Adalberto, Aparecida. Prédios pequenos, antigos, com suas varandas tão próximas – ao alcance da voz. Testemunhas de outros tempos, quando até os prédios eram mais humanos.

 

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