Assisti há tempos a uma reportagem sobre uma mulher. Uma mulher como eu, como tantas de nós, que se apaixonou, se casou, teve filhos, descasou, e que fez tudo isso enquanto trabalhava duro. Nós, mulheres, somos assim: temos jornadas duplas ou triplas, trabalhamos fora e em casa ainda cuidamos de tudo e de todos. Já até escrevi que nos parecemos com aquelas formigas, que andam para lá e para cá, carregando nas costas umas folhas maiores do que ela. É assim que é. Mas essa mulher de que falo foi além, porque seu trabalho não era nada fácil. Ela era uma triatleta.

Quem faz triatlo é quase um super-humano: cada prova inclui natação (um quilômetro e meio, geralmente no mar), ciclismo (quarenta quilômetros) e corrida (dez quilômetros). Pois essa mulher fazia tudo isso – e como profissional. Foi pentacampeã brasileira e competiu em inúmeras provas internacionais, inclusive em treze Ironman, que pelo nome deve ser uma competição duríssima, claro. Já pensou como ela precisava se virar para treinar nesse nível e ao mesmo tempo cuidar da casa e de dois filhos? Pois ela conseguia.

Mas, em 2005, sua vida mudou: ela se descobriu portadora de um tipo raro de Parkinson, que iria atrofiar os músculos de seu corpo de ferro. Os médicos não lhe deram mais do que dois anos de vida. Ela não quis acreditar. E achou que o esporte poderia ser, se não uma salvação, pelo menos uma válvula de escape. E se concentrou em nadar. Nadou e nadou e nadou. Conseguiu, com isso, deter a doença, ou pelo menos diminuir sua evolução, o que deixou os médicos surpresos. E ela não se limitou a nadar: recomeçou a competir, agora como nadadora paralímpica.

Em pouco tempo, já era outra vez uma campeã. Ganhou medalha de ouro no Mundial de Montreal e quarto lugar nas Paralimpíadas de Londres. Agora está treinando para as Paralimpíadas do Rio, em 2016. Como parte desse treinamento, e com enorme força de vontade, nada dez mil metros por dia, seis vezes por semana. A evolução da doença, ainda que mais lenta, tem sido um obstáculo terrível. Tanto, que ela abriu mão de morar com os filhos, que foram para a casa do pai. Mas ela nunca deixou de lhes dar todo amor e atenção.

No ano que vem, nas Paralimpíadas, vamos torcer por ela. Seu nome é Susana Schnarndorf, uma heroína brasileira.

 

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